Chamo-Te
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que não quero ver.
Peço-Te que sejas o presente-
Peço-Te que inundes tudo
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Vaidade, Tudo Vaidade!
Vaidade, Tudo Vaidade! Vaidade, meu amor, Tudo Vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm.
Vaidade é luxo, a glória, a caridade,
Tudo Vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor da tua mãe...
Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com a minha escuna,
E ninguém me valeu na tempestade!
Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, vê lá! Eu volto-les o rosto...
E isto em mim não será uma vaidade?
António Nobre
Sem comentários:
Enviar um comentário